We share memories
I won’t forget
And we’ll share more,
My friend,
We haven’t started yet
Something happens
When we’re together
(trecho de “Amigos para Siempre”)
Dia desses fui escrever um cartãozinho de aniversário e, nesses sustos que o dia-a-dia gosta de nos pregar, me dei conta de que a aniversariante e eu somos amigas há mais de 20 anos. Uns dias se passaram e eu, fazendo novas contas, me peguei calculando há quanto tempo tenho cada uma das minhas amizades. Não todas, obviamente. Fui ali por uma média de amostragem mesmo e me surpreendi por ter algumas amigas há mais de 25 anos. Agora guardem essa informação, e vamos em frente que vou mudar de assunto.
Antes de mais nada, queria dizer que AMEI a abertura (e o encerramento das nossas Olimpíadas). Me orgulhei, me emocionei, ri muito dos brócolis dançantes e chorei um monte com o hino nacional e outras passagens… Veja bem, não quero desmerecer em nada nosso evento. Porém, nossa abertura me lembrou outra. É que, pelos idos de 1992, quando, provavelmente, alguns leitores deste blog nem eram nascidos, mas eu e minha memória de elefante já habitávamos BH, aconteceram as Olimpíadas de Barcelona.
Pela primeira vez, eu consegui ficar acordada para ver um evento deste tipo e, também pela primeira vez, tive consciência de me emocionar com uma música, sem entender nada da letra. Quer dizer, quase nada, porque “Amigos para siempre”, a frase que pontua o refrão (pois o restante da letra é em inglês) é fácil de entender. Veja bem, se você tem onze anos, a expressão “para sempre” é bem difícil de entender, quantificar, precisar. O que seria para sempre para mim? Nem ideia…
Achei lindo e nunca, mas nunca mesmo, me esqueci da Sarah Brightman e do Jose Carreras naquele dueto. Quem é dessa época, certamente vai lembrar: nenhuma música tocava tanto naquele ano (e acho que deve ser uma música bem recorrente até hoje). Para escrever este post, tive que me informar. Agora, sei que a a música é do Andrew Lloyd Weber, o gênio por trás de “O Fantasma da Ópera”, “Evita” e outros musicais que fazem parte da minha vida. Sei também que esta informação não fez nenhuma diferença até hoje.
A diferença é que, hoje, quase 25 anos depois, tenho amigas e amigos que estão na minha vida desde 1992. Amigos que compartilham minhas memórias, minhas histórias, minha vida. Amigos que me olham (e para quem eu olho) e que me sabem (e que eu sei de volta). Um saber de olhar, de rir, de estar presente na alma mesmo, no coração entranhados. Amigos para sempre, aqueles que estarão conosco mesmo distantes. Aqueles para quem eu sempre volto. Também tenho amigos recém chegados, há seis meses, dois anos, além de umas moças que me incluíram num grupo descontrolado de whatsapp há uns 15 dias, que estão com pinta de que irão ficar comigo até 2077, se eu ainda estiver por essas bandas.
Concluo, portanto, que o “para sempre” pode estar começando hoje, e recomeçando amanhã. Que cada dia é um dia a mais nesse para sempre de cada um. Que o que fica para sempre depende: às vezes é amor, às vezes é saudade, às vezes é tristeza também… Entendo hoje que ser feliz para sempre, ser amigo para sempre, não é amar todo dia intensamente, ser amigo todos os dias, num grude impossível (e indesejável também): o para sempre é o saldo, é a constância, é o resultado de dias vividos e pequenos altos e baixos compartilhados. Para sempre é o inesquecível que, como diria Fernando Pessoa, faz com que o valor das coisas não esteja no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem (e nas marcas que nos deixam, ouso completar).
Laura Henriques, mais de 30 anos, leitora por paixão e sonhadora por diversão. Escreve o que está inundando seus pensamentos, transbordando sentimentos.