Começo de ano é sempre assim, renovação, novos planos, fazer melhor o que deixamos pra trás nos meses anteriores. O mesmo clichê que embala o final de um ciclo e o início de outro. Sim, é uma vibe pra lá de piegas que bate na gente nessas épocas, mas não dá pra não se contagiar pela motivação de fazer diferente nas próximas 365 oportunidades que estão por vir.

E foi pegando carona nisso que decidi começar a primeira coluna de 2017 falando um pouco sobre o futuro e sobre o que eu desejo para a moda nessa nova caminhada que acabou de começar.

De 2016, a lição que mais ficou foi a de que precisamos desacelerar. Consumir desenfreadamente, já não nos satisfaz mais e trabalhar horas a fio para ganhar muito dinheiro deixou de ser sinônimo de satisfação pessoal. Estamos em um período confuso e é normal que nos encontremos em dúvida sobre questões básicas como estas.

A tão falada crise que se instaurou nos últimos tempos não é só financeira, ela também é reflexo do que somos enquanto sociedade, enquanto consumidores e principalmente enquanto indivíduos. Nossas ações impactam um todo e estamos nos dando conta disso aos poucos, mas com o olhar positivo é possível encontrar na recessão uma oportunidade para a criatividade fluir.

A moda, como já sabemos, é um brilhante reflexo do mundo e de como ele funciona. Dessa forma é necessário aproveitar o momento instável e levar os questionamentos um pouco mais a fundo: será que precisamos de tantas roupas? Será que a moda se limita mesmo ao consumo pelo consumo? Produzir desenfreadamente está bom para quem faz e para quem compra?

O período que estamos vivendo está sendo marcado por inúmeras transições, dentre elas o modo que enxergamos e valorizamos mercadorias. Aos poucos estamos nos desligando dos significados superficiais que os produtos nos trazem, como status, e estamos passando a nos interessar mais sobre a experiência que aquele artigo nos proporciona. Saber de onde vem, quem faz, os impactos que gera no mundo e no meio ambiente, são fatores que nos influenciarão cada vez mais na hora de comprar uma roupa.

Tendo essa transformação em vista, uma parte do mercado de moda já se mostra atento e vem acompanhando o momento transitório investindo em tecnologias, voltando o olhar para o processo de produção, não de forma mecanizada, mas sim humanizada, além da parceria entre produtor e cliente, que convida quem compra a contribuir com o produto de quem faz.

Em meio a tempestade de recessões, estamos em busca de novos propósitos, e com a moda não seria diferente. Elevar as roupas ao local de fala significa empoderar diversas pessoas que estão por trás de sua confecção e as que as vestirão também. Pensar sobre isso na hora de comprar uma peça pode ser um pequeno grande começo para as resoluções revoluções de ano novo. A roupa que não só nos veste o corpo, mas nos veste a alma, é a roupa que veste o nosso futuro.

Elisa Santiago é estudante de Design de Moda e uma eterna amante das ruas e das artes. Acredita na roupa como elemento de fala e empoderamento. É quem está por trás do @tens_razão.