Sustentabilidade. Essa palavra retornou ao domínio popular em meados de 2005, se tornou uma tendência comportamental e se fixou tanto na realidade social que, saiu do posto de efemeridade e hoje é assunto sério, cotidiano e necessário.
Se estamos falando de moda, a ideia de sustentabilidade ganha ainda mais peso. A indústria é uma das mais rentáveis do mundo, ao mesmo tempo em que é a terceira no ranking de poluição.
Partindo dessa premissa é fácil concluir que, à medida em que a indústria têxtil se desenvolve, mais poluição e estragos ela deixa para o planeta. Sendo assim, é lógico pensar que a maneira mais responsável de se fazer roupa na atualidade é não fazendo.
Essa parece uma afirmação um tanto quanto radical à primeira vista, mas se pararmos para pensar no volume de peças já existente em todo o globo e nas que ainda estão por serem produzidas, o entendimento logo chega.
Parar a indústria têxtil nesse sentido ainda é uma utopia, porém existem algumas medidas que, enquanto consumidores, podemos adotar a fim de fazer dessa cadeia de produção algo mais justo e sustentável. Uma dessas medidas é a optar por comprar peças que já circulam por aí a mais tempo, como as peças que encontramos em brechós.
Re-significar a roupa usada é uma excelente forma de não contribuir com a poluição ambiental, com o desperdício de água e com a geração de lixo.
Para além do contexto ambiental, o brechó vêm ganhando espaço entre os consumidores por proporcionar uma experiência de compra diferente em diversos sentidos.
A começar pela ideia de garimpo. Numa loja convencional temos a dimensão do que encontraremos ao entrar: peças atualizadas nas tendências, separadas por sessão, estilo e por aí vai. Comprar a roupa de re-uso exige olhar apurado, requer o interesse em dar à uma peça uma visão atualizada (ou não) e é um trabalho minucioso e delicioso.
A geração Z, que hoje é o grupo consumidor mais estimado pela indústria, vêm trazendo esse novo olhar para as compras e têm se mostrado uma parcela exigente quando o assunto é sustentabilidade. Por isso, não por acaso, a onda dos brechós está sendo retomada e nossa perspectiva sob aquilo que já foi usado, está mais uma vez, se renovando.
A efervescência das redes sociais também foi outro fator que têm ajudado os brechós a reconquistarem um lugar no coração dos consumidores. Muitos desses negócios desenvolveram perfis relevantes na internet e produzem conteúdos visuais que geram desejo e realocam a ideia de roupa velha para o lugar de item de moda.
Utilizar o que já foi do outro não pertence mais ao imaginário sobre o que é velho. Consumir brechós é, na verdade, uma forma encantadora de levantar a bandeira de uma moda mais sustentável e também de dar continuidade a histórias e narrativas através da roupa.
Elisa Santiago é designer e produtora de conteúdo, e se considera uma eterna amante das ruas e das artes. Acredita na roupa como elemento de fala e empoderamento. É quem está por trás do @tens_razão.